Em 1995, um ano antes de sua morte, Hayan Rúbia encontrou o poeta Tchello d’Barros num dos mais importantes acontecimentos poéticos do Sul do Brasil que se tem notícia até hoje. O “bombardeio poético”.
- Quando ela soube que eu ia fazer o “Bombardeio” sobre a cidade de Blumenau, escreveu uma carta para mim dizendo que gostaria de registrar pessoalmente o fato. Ela parecia estar numa onda de pacifismo! Havia feito uma grande viagem pela América do Sul e México durante os anos 80 e queria me contar como essa viagem transformou sua vida. Acho que ela procurava um interlocutor.
Dois momentos na vida de Tchello d'Barros, em 1995 quando conheceu
pessoalmente Hayan Rúbia e atualmente, 2011. Segundo ele, "um passado
que vale a pena lembrar"!
Pedimos a Tchello que nos explicasse melhor como foi este bombardeio.
- Esta ação consistiu em sobrevoar a cidade de Blumenau, num avião monomotor (Teco-teco) contratado, e despejar sobre a cidade poemas dobrados no formato de aviõezinhos de papel. O vôo ocorreu no dia 06 de agosto de 1995, exatamente na data do cinquentenário das bombas atômicas sobre o Japão. O ato simbólico foi um protesto, um manifesto propondo uma reflexão pela paz por parte das novas gerações, sobretudo os que nunca viram ou sentiram os horrores de uma guerra. Na cidade, as pessoas recebiam os aviõezinhos, que desciam do céu trazendo no lugar de uma bomba, um poema.
Quem conhece Tchello d'Barros, sabe que ele é uma pessoa sóbria e equilibrada mas quando falava de Hayan Rúbia para a nossa equipe, não conteve a emoção e sua ultima fala antes de se despedir de nós foi a seguinte. "O passado morre, para muita gente, mas para nós, os poetas, não existe passado. Tudo está presente e tudo é o agora"!
Hayan Rúbia foi a primeira mulher a declamar o poema famoso de Mano Melo, "Sexo em Moscow", para quem não sabe este poema, considerado até hoje, clandestino em Cuba. É uma jóia das rara das mais requisitadas nos recitais pelo Brasil a fora.
Infelizmente não temos nenhuma gravação da voz da poeta mineira falando esta poema, pelo menos, até agora não conseguimos, mas em homenagem aos 15 anos da morte dela, segue aqui uma relação de vídeo com grandes poetas brasileiros falando o poema em recitais por diversas cidades Brasileiras.
Mano Melo - Autor do Poema
Pedro Marodin - Porto Alegre / RS
Atur Gomes - Campos dos Goytacazes / RJ
Ricardo boca aberta mecatrônica de artes - São Paulo / SP
Neste vídeo, Eduardo Tornaghi, que também gozava de grande admiração da poeta mineira Hayan Rúbia, esta lendo uma seleta de poemas do grande poeta Mano Melo que encerra com o genial "Sexo em Moscow"!
OBS: Se você conhece e/ou viu alguém declamar este poema, mande-nos o vídeo e publicaremos aqui, em homenagem à Hayan Rubia, a primeira mulher brasileira a declamar Sexo em Moscow, mas que, infelizmente, não temos nenhuma gravação com a voz dela.
Renato Gusmão, ex-integrante do Clube dos 09, grupo criado por
Hayan Rúbia, para contrapor a hegemonia do Clube da Esquina.
Apesar do não comparecimento do poeta paraense Renato Gusmão para as comemorações dos 15 anos da morte de Hayan Rúbia, o evento aconteceu. O poeta alegou agenda lotada e dificuldade de conciliação de horário de vôo com os compromissos já agendados em Belém e Santarém. Renato, no entanto, foi gentil e explicou que numa outra ocasião falará com mais calma sobre o "Clube dos Nove", um grupo fundado por Hayan Rúbia e do qual ele fez parte.
Dificuldade à parte, a homenagem realizada no dia 07 de Agosto de 2011 entrou para a história. Foi um momento de rara alegria mas também de muita dor, choro e angústia. Falar da poeta ainda causa convulsões na platéia ainda mais quando se trata de um público profundamente conhecedor da obra da autora.
a presença de crianças na platéia não permitiu a leitura de
certos textos da autora mas os filmes foram liberados!
A controvérsia se deu devido à presença de crianças na platéia. O papo acabou acontecendo em torno da questão da censura, já que alguns poemas de Hayan Rúbia tem conteúdo duvidoso para ser exposto à apreciação infantil. Ao ser questionada sobre o horário da homenagem, Livia Diniz, dona do espaço LD produções e também a produtora do evento, se defendeu explicando que era importante informar as novas gerações sobre a vida cultural de Minas Gerais e do Brasil. "A época da censura já caiu" disse ela com total objetividade e continuou sua fala: "Pessoas como Chacal, Torquato Neto, Clube dos Nove e Hayan Rúbia, só para citar alguns, ajudaram o Brasil a se libertar dos anos de chumbo"....
Após muita confusão, palestrantes divergem sobre datas e fatos
da vida de Hayan Rúbia mas a harmonia foi restaurada!
Débora Diniz, jovem fanática pelo universo iconográfico da autora ficou triste com o que chamou de "caretice" por parte dos palestrantes, que, depois de exibir o trailer e o videoclipe oficial do filme negaram-se a ler os poemas da autora. Enquanto trocava figurinhas de um extinto álbum (relíquia dos anos 80) com o artista plástico André Lopes (outro fanático), Débora subiu ao palco e desabafou: "Achei que isso aqui fosse uma homenagem séria", aos soluços recusou um copo de coca cola oferecido pela produção.
Álbuns contendo fotos de Hayan Rúbia foram manuseados pelos
participantes mas logo despareceram misteriosamente...
Apesar de alguns desentendimentos; a homenagem foi linda. Com painéis contendo fotos da poeta já na entrada do espaço cultural e belos álbuns com vastíssimo material de pesquisa. Ao final do evento todo o material sumiu repentinamente. Ninguém soube dizer quem trouxe. Lívia explicou que por questões contratuais não podia revelar de onde veio o material, quem foi que o trouxe e quem o levou. Da nossa parte, mostramos o trailler e o videoclipe oficial do filme "Enigma - O Código de Hayan Rúbia".
Débora Diniz se colocou à disposição para um bate
papo com nossa equipe. Diz colecionar figurinhas
sobre Hayan Rúbia.
Ao final, quando saíamos do espaço cultural; Débora Diniz cercou nossa equipe e se colocou à disposição para nos mostrar alguns objetos que juntou sobre a vida e obra da nossa pesquisada. Ficamos contentes com a rápida conversa que tivemos com ela e, claro, não podíamos deixar de perguntar: "onde foi que você conseguiu isso"? A resposta da jovem estudante de comunicação, no entanto foi curta e grossa... "Eu tenho meus contatos"! Achamos o tom um pouco seco, protestamos mas ela nos deu as costas, parecia mesmo bastante chateada...
Marcamos de conversar com Débora ainda este ano. Tomara que ela nos receba!!!
Artur Gomes ao lado da poeta e cientista gaúcha, May Pasquetti,
que acreditamos ter algum grau parentesco com Hayan Rúbia.
Não, o filme não foi feito por ele, pelo menos é o que alega o poeta da cidade de Campos dos Goytacazes, Artur Gomes. Criador do Portal Fulinaíma e com mais de 4 décadas de atuação plena na poesia falada, Artur é um autêntico representante, ao lado de Mano Melo e Cairo Trindade, da geração 70.
No afã de descobrir novas pistas sobre a poeta mineira Hayan Rúbia, procuramos o poeta depois de ele nos dar um telefonema no início deste ano e fazer uma revelação bombástica: Reproduzimos aqui o diálogo com o poeta.
- Alô, é do portal cinema possível?
- Sim.
- Vocês estão fazendo um filme sobre a poeta mineira Hayan Rúbia?
- ... (Fizemos silêncio neste momento e só depois de engolir em seco é que respondemos). Sim.
- Bom, eu sou o poeta Artur Gomes, moro em Campos dos Goytacases, nasci na Cacumanga!
- Sim, nós conhecemos o senhor.
- Não precisa me chamar de senhor, não gosto de formalidades...
- Desculpe, por favor.
- Ok. Mas vamos direto ao assunto, vocês estão fazendo um filme sobre a poeta mineira Hayan Rúbia, neh? Recebi um pacote dela em 2001.
- Impossível, ela morreu em 1996.
- Olha, não posso falar muito, estou com uma filha recém nascida, cuidados de pai poeta, vocês entendem neh? Gostaria que me dessem um endereço para eu enviar um vídeo, só quero ajudar!
- Claro, anote por favor (passamos o nosso endereço para ele).
- Ok, tchau!
- Alô, alô... alô... (desligou na nossa cara).
Fizemos as malas e fomos a Campos, cidade do interior do estado do Rio de Janeiro, onde vive o poeta. Ele nos recebeu bem. Com um vozeirão estrondoso ele nos ofereceu uma cachacinha especial feita na cidade de Campos.
Durante a conversa, Artur Gomes, nos disse ter recebido, em 2001, um pacote com objetos pessoais da poeta. Claro que não contemos a curiosidade e perguntamos se ele teve algum affair com ela mas ele negou. Disse que eram amigos, mas quando contamos a ele sobre as declarações da poeta de Rio das Ostras, Jaqueline Serávia ele ficou em silêncio e desconversou.
Depois de muito papo, muita poesia e muita cachaça, ele nos disse que o conteúdo do pacote não pode ser revelado na íntegra mas que estava comovido ao saber que alguém se interessou pela vida da poeta e quis colaborar. Ele não falou muito diretamente sobre Hayan Rúbia a não ser que o pacote chegou exatamente no dia 11 de setembro de 2001, quando via pela TV o famoso atentado do World Trade Center, nos EUA.
"O pacote chegou por volta de 11 horas da manhã" disse ele. "Não dei muita atenção e só abri este ano". Referindo-se ao ano corrente de 2011.
Ficamos curiosos para saber porque ele abriu o pacote 10 anos depois, mas quando nos empolgávamos e preparávamos uma série de perguntas esquadrinhadoras, ele, com a habilidade de um dos mais afamados "faladores" de poesia do Brasil, simplesmente mudou de assunto, ligou o computador e passou a tarde nos mostrando seu belo portal de blogs, o Portal Fulinaíma. Nos divertimos muito com seus poemas e suas fotografias, além de belas reportagens sobre a arte da poesia, ao final, praticamente bêbados, tomamos o Ônibus de volta para Cabo Frio com mais uma lacuna sobre a misteriosa vida da poeta alternativa Hayan Rúbia.
Publicamos aqui uma parte do vídeo que Artur Gomes nos cedeu, infelizmente e segundo ele, feito por um cinegrafista anônimo, o que nos impede de saber, de fato, se se trata de vídeo real ou não.
Um grande achado da nossa equipe, depois de vários telefonemas anônimos, cartas obscuras e e-mails enviados de Lan houses espalhadas por diversas capitais brasileiras, finalmente, chegou até nós um vídeo que é considerado autêntico.
O vídeo é da própria filha da Rubí ou Naiah como era conhecida entre tantos outros apelidos. Ao saber que faríamos uma grande homenagem em memória dos 15 anos da morte da artista, a anônima filha fez questão de mandar o vídeo lendo um manifesto em que, para nosso alivio, diz concordar com o filme, incentiva nossa pesquisa e se declara ser praticamente a figura da própria mãe em semelhança filosófica.
A menina se diz libertária e militante, mas não entra em detalhes, afirma que nasceu em 1994, contrariando todas as nossas pesquisas pois, sequer fora citado o fato de que Hayan Rúbia tivesse uma filha. De qualquer forma, examinamos o filme com os melhores especialistas, incluindo Paulo Mainhard e Igor Barradas dois cineastas obsecados por imagens que atestaram a autenticidade do material.
Publicamos, portanto aqui mais este precioso bem cultural da humanidade: Um vídeo da Filha de Hayan Rúbia.
Colega de faculdade de Hayan Rúbia, "Frequentávamos a faculdade mas não eramos matriculadas. O conteudismo estava tomando conta das instituições e nossa ação - minha e de Rubí - consistia em frequentar e participar de eventos culturais, buscando restaurar o espaço da poesia alternativa brasileira!" afirmava enquanto nos explicava que ambas foramagitadoras da época em que o Brasil consolidava a passagem da ditadura militar para a democracia, Jaqueline faz revelações sobre momentos inesquecíveis ao lado da nossa personagem. Um passado que não volta mais, mas que pode ser revivido graças à arte do cinema.
"JAKE" era assim que Hayan Rúbia se referia à colega de
facultade e também poeta Jaqueline Serávia.
Depois da tensão do início conhecemos uma pessoa amável que chegou a verter lágrimas quando falou da colega de faculdade. Foi um bate papo franco e cheio de insinuações, não sem uma dose de ironia e muita poesia no ar. Além de nos mostrar um poema de 1998 que, segundo "Jake", como carinhosamente era chamada por Hayan Rúbia Ela disse que o poema foi criado especialmente para a outsider mineira que já havia falecido 2 anos antes.
Cinema Possível - Você teve um caso com Hayan Rúbia?
Jaqueline Serávia - (Solta uma gostosa gargalhada) Tá delirando? Se a conversa vai por aí é melhor ir parando agora. Rubí era uma amiga acima de tudo, tivemos nossos momentos de loucura mas acho que a vida pessoal é da intimidade das pessoas não vem ao caso falar disso aqui.
Cinema Possível - Estamos atrás de pistas, informações que nos leve a conhecer melhor a poeta.
Jaqueline Serávia - Coloquei no correio para vocês uma fita com algumas imagens nossas que fizemos em Belo Horizonte, na praça do papa, lugar que ela gostava muito. A gente sempre se reunia lá, todos os anos ela chamava os amigos para rolar na grama, cantar, bater papo, etc...
Cinema Possível - Em que época esses encontros aconteceram?
Jaqueline - Aconteceram e acontece até hoje, claro que, atualmente, sem a presença dela. Os encontros surgiram nos anos 80 depois que ela chegou de uma longa viagem pela América Latina por volta de 1982 a 84. Em 1985 ela fez o primeiro encontro mas ninguém registrou nada, acho que você não vai achar fotos dos primeiros. Desde que o papa esteve em Belo Horizonte, em 1980, quando a praça foi praticamente criada ela passou a frequentar o local. Parou durante a viagem mas logo que chegou, retomou.
Cinema Possível - Ela gostava do papa?
Jaqueline - Na verdade, pelo que sei ela o odiava. O papa João Paulo II não gostava da Teologia da Libertação, movimento da igreja ao qual Hayan Rúbia se envolveu, ela estava sempre metida com política, este era um lado dela meio complicado porque naquele período a ditadura ainda existia, embora já estivesse "acabado". Você sabe como é neh? Uma ditadura de 20 anos, na minha opinião, leva pelo menos 40 anos pra acabar de fato.
Cinema Possível - Você conhece os poemas dela?
Jaqueline - Alguns, inclusive sei decor, quer ouvir? (Jaque recita um poema curto de Hayan Rúbia).
"Folhas como de outono
esses restos de corpos espalhados
gélidos tal inverno
inexistente nesse trópico
Retorno assim que meus ossos
assim como meus olhos se acostumarem
Sim, porque é assim que acontece,
ou é o que deveria?!
Acostumar-se a guerra, repressão e fúria?
A mim já bastam as minhas."
(Hayan Rúbia)
Cinema Possível - Você sabe de que ano é este poema?
Jaqueline - Não, mas é bem antigo. Acredito que seja dos anos 70 porque ela me mostrou isso num caderno bem velho e escrito tudo a mão. Tem outro que também é dessa época, quer ouvir? (recita outro poema).
"Ele não acreditava em mim
Eu sabia, mesmo que ele nada dissesse
sobre isso ou sobre nada
Em ensaio me desejava
Eu sabia, mas não dava.
Era desafio, quem de nós dois cederia.
Eu via nítido em seus olhos o desejo
e o desprezo por meu talento que ele nem percebia
- Que se dane, meu Guru. Você perdeu!
E eu parti fecundada da tua sabedoria."
(Hayan Rúbia)
Cinema Possível - Este último poema foi feito para alguém em especial?
Hayan Rúbia - Eu, particularmente acho que ela fez este poema para o Artur Gomes, você conhece o poeta Artur Gomes? Na época, quando ela esteve em Cabo Frio, deu uma esticada em Rio das Ostras, eu recebi ela na minha casa, lembro que ela chegou com o Artur mas nunca ficou claro a história entre os dois, sei que ela tinha veneração por ele.
Foto assinada por um tal de Edson, acredita-se que seja de algo em torno
de 1990 ou até mesmo 2 anos antes. Na praça do Papa em Belo Horizonte
onde HR. reunia amigos para conversar, cantar e rolar na grama...
Cinema Possível - Você acha que eles tiveram um caso?
Jaqueline - Na verdade a gente vivia juntos, nós três, pra cima e pra baixo falando poesia. O Artur com aquele vozeirão e o mulherio todo atrás dele mas ela era discreta e eu também.
Cinema Possível - Você também teve um caso com ele? Vocês tiveram algo a três?
Jaqueline - (Nova gargalhada e completamente irônica), vem cá, que pôrra de filme é este? É filme de sacanagem?
Cinema Possível - Desculpe, Dna. Jaqueline, é que nós soubemos que a Hayan Rúbia era bem à frente de seu tempo e pelo jeito a senhora também!
Jaqueline - Não me chame de senhora. (fica séria e para de falar, anda pela areia conosco até que resolve dizer um novo poema). / Eu fiz este poema para ela em 1998, quer ouvir?
Cinema Possível - (sorriso de satisfação) Claro, quero ouvir sim e com muito gosto.
Neblinando a Lua
Turva – a luz da lua – e dança.
Seminua sorri pra vida, desenlaça tranças...
Embriaga-me co’ aroma de frutos, se faz brisa - o tantra.
Os lábios se calam. Nossos olhos - no silêncio - se encontram.
A mão toca - a gramínea ruiva eriça-se.
O mar intumescido, rende-se – à elipse provocante das curvas na areia.
Seduz em ondas, derrama-se em espuma e as deflora.
Sobe a cortina branca, gaze de volátil transparência.
Doa-se ao paladar – o sal - nas pétalas doces de orquídea rara.
Desperta em mim – tal sol em noite escura...
Não és imagem rarefeita ou eclipse - És nua! Sou tua!
- Obra de arte ruborizando estrelas -.
(Jaqueline Serávia)
Queríamos arrancar muito mais informações sobre Hayan Rúbia, mas sentimos que a poeta de Rio das Ostras, Jaqueline Serávia, estava cansada e não queria aprofundar nenhum assunto. Ela nos deu cópias dos poemas e nos autorizou a publicar um trecho do vídeo em que ela rola na grama com Hayan Rúbia e amigos em BH, por volta de 1988 ou 90. Ela também não nos falou sobre o período da faculdade e acabamos com muitas perguntas no ar, esperamos reencontrar Jaqueline e quem sabe aprofundamos mais a conversa sobre a nossa querida personagem. Estamos felizes com a pesquisa que mesmo de forma muito lenta parece avançar.
Mário Pirata, teve seu auge nos anos 70/80, período
em que conviveu intensamente com Hayan Rúbia!
O poeta Mario Pirata, de Porto Alegre, é um forte nome da poesia alternativa no Brasil, seu auge, no entanto ocorreu nos anos 70/80 momento em que participou ativamente da vida política brasileira. Num momento em que a cultura alternativa pegava fogo, Mário Pirata e Hayan Rúbia eram figuras festejadas no mundo da poesia e circulavam com desenvoltura por diversas localidades do País.
Num papo descontraído com nossa produção, o poeta Mario Pirata abriu o verbo e contou tudo. Disse não ter qualquer pudor em falar da grande artista que foi a "Rubí", apelido carinhoso que os gaúchos deram à nossa querida artista pesquisada: “Sabes por que tenho esse chiado estranho na fala, meio acariocado-mineirado, meio enrolado e que faz pensarem sempre que não sou gaúcho?" Nos disse o poeta em tom de confissão. "Isso não era assim..." afirmou, "ficou desse jeito depois de ser beijado por Rubí - eu a chamava assim por causa do brilho no olhar”.
Soubemos por diversas fontes que o apelido pegou e em Porto Alegre só se chamava Hayan Rúbia de "Rubí"! Entre uma cuia de chimarrão aqui e outra ali, Mário Pirata foi entrando em estado de êxtase e desandou a falar e falar com total entusiamo:
"Num recital, Rubí levantou a saia no palco e mijou enquanto falava um poema de amor... foi deslumbrante conhecer aquela mulher que dizia que nascera em Trebizonda. Ela escandalizou a cidade eu era sete anos mais velho que ela mas me sentia um guri". Emocionado ele nos ofereceu mais um mate enquanto concluía sua fala saudosa: "O bar onde rolou o sarau estava apinhado de gente. Universitários, artistas, agentes de segurança, funcionários públicos, sim, naquele tempo já haviam muitos funcionários públicos; mas quando Rubí aparecia, as pessoas abriam uma clareira para ela passar" num lapso de pensamento o poeta leva a mão ao rosto como se estivesse cansado "... ops, não era um bar, era um teatro inferninho na rua Ramiro Barcelos, o nome do lugar era TEATRO UM. Fechou depois daquela noite". Uma pausa longa enquanto o poeta força a memória para lembrar detalhes do ocorrido. "Rubi era todas as mulheres ao mesmo tempo; daí não existirem retratos filmes desenhos dela; que possam ser considerados verdadeiros nada aprisionava Rubí. Nem ninguém. O Julio Zannota mandou fechar o TEATRO UM, fizemos reunião e todo mundo concordou. Ele declarou que não tinha mais sentido continuar aberto. Depois que ela esteve lá, concordamos que tudo tinha que parar ali, e aquela noite ficaria registrada eternamente!".
Dedicado a fazer poesia pra criança e adultos, Mário Pirata, com uma agenda lotada, nos pediu desculpas, desejou boa sorte para nosso filme e rumou para a Feira do Livro de Bento Gonçalves, cidade da serra gaúcha, onde foi convidado para dar brilho e luz ao evento. Ele nos recomendou cuidado na pesquisa, dizendo que era muito delicado tocar no nome de Hayan Rúbia, mas afirmou que queria muito colaborar para que a memória dela fosse recuperada.
Embora declarasse que ela não se deixou aprisionar nas mídias da época, acabou nos entregando uma fita K7 com a voz autêntica de Hayan Rúbia lendo um poema. Ele afirmou não lembrar se na noite em que gravou a voz dela era realmente dela ou algum livro que ela parecia ler naquele momento. "No fundo, no fundo, a gente estava meio doidão" e afirmou: "Hayan Rúbia tinha asas na garganta e serpentes enroladas no pescoço e foi a primeira mulher tatuada que vi em minha vida - palavras em aramaico e latim espalhadas pelos vãos e desvãos do corpo". Todos, da equipe de filmagem podemos constatar no olhar do poeta, uma certa nostalgia, mas ele se despediu e meteu o pé na estrada, aliás, como sempre fez a vida inteira.
A RECONSTITUIÇÃO EM SI.
A Bailarina mineira, residente em Cabo Frio, Tatiana Prota Salomão Concordou em Servir de modelo para que fizéssemos a reconstituição da voz de Hayan Rúbia.
Tatiana Prota Salomão (Bailarina), suposta semelhança
com a polêmica poeta mineira Hayan Rúbia.
Devido a inúmeros depoimentos sobre a aparência da poeta Hayan Rúbia concluímos que seu rosto é idêntico ao da atriz Mariana Jacques e também da bailarina Tatiana Prota Salomão que concordou em fazer uma simulção. Registramos Tatiana caminhando pela cidade de Cabo Frio, para dar corpo à voz restaurada e remasterizada de nossa personagem.
Curiosamente, depois de restaurada a voz, também concluímos uma grande semelhança da voz da poeta com a voz da atriz Mariana Jacques, o que nos faz respirar aliviados e perceber que nossa pesquisa segue na direção certa.
Tem sido muito difícil para a equipe definir o verdadeiro perfil da artista mas, graças a um trabalho intenso de computação gráfica e estudos de fisionomismo, grafologismo além de reconstituição forense a partir de retratos falados, podemos dizer que os rostos que mais se aproximam do verdadeiro semblante de Hayan Rúbia é, de fato, os da atriz de Belo Horizonte (Mariana Jacques) e da Bailarina nascida em Lagoa Santa - MG, Tatiana Prota Salomão.
Um depoimento de José Facury, onde tudo parace se encaixar.
Uma das poucas pessoas que conheceu Hayan Rubia pessoalmente, José Facury, um importante cenógrafo e diretor de teatro do Rio de Janeiro, explica que não levava muita fé no talento dela, mas que, por ter o hábito de prestigiar as pessoas que freqüentaram suas aulas e laboratório nos anos 80 ele decidiu ver algumas performances, ler poemas conhecer um pouco da trajetória da artista. “Eu não dava muita importância para o trabalho dela na época, afinal de contas eram tantas pessoas e a gente tinha um pique de produção constante, as relações não eram tão pessoais a não ser, claro, com a galera grávida, sabe como é ... as crianças estavam nascendo naquela época, por isso o nome do grupo “Creche na Coxia”! Declarou.
No entanto ele afirma que o estrelato era inevitável na vida de Hayan Rúbia, havia algo de trágico e profundo em suas performances. “Na verdade ela estava partindo para um linguagem que, constatou-se mais tarde, ia mais para o campo da poesia experimental, da linguagem conceitual que misturava um pouco de tudo. Em síntese, Hayan Rúbia era uma espécie de discípula de Laurie Anderson e tinha um “Q” meio Grace Jones”. Durante pausa para um cafesinho, enquanto gravava cenas da novela Cidade Jardim (José Facury é também ator) ele acabou abrindo o jogo. “Eu tenho a impressão que as características físicas dela foram mudando e ela se tornou um ser meio andrógino, mas não quero fazer afirmações, estou apenas especulando”. Depois, com um leve sentimento de culpa confessou: “Eu fiquei sabendo da morte dela por volta de 2002, só então me dei conta de que haviam se passado 6 anos e ninguém mais comentava do paradeiro dela. Foi uma triste perda”.
Guilherme Guaral, o diretor da novela Cidade Jardim, a primeira novela feita no interior do estado do Rio de Janeiro chama Facury, meio apressado, interrompendo nossa entrevista. O próprio Guaral declara ter algo a dizer sobre "ela" mas no momento precisa liberar o set.
Pedimos desculpas públicas ao poeta Cairo Trindade, um dos gingantes da poesia carioca e que negou veementemente qualquer relação com Hayan Rúbia: “Desde que vocês começaram a pesquisar a vida desta mulher, meu telefone não parou de tocar... gente, eu tenho uma vida e gostaria de vivê-la em paz na intimidade do meu lar e da minha família”! Disse ele à nossa produção.
O protesto do poeta Cairo Trindade é justificado por razões de um deslize cometido pelo Sr. Flavio Mutambo Jr. Que, no afã de conseguir novas informações sobre a nossa biografada começou a desconfiar de que o poema
“Ultimo Poema” teria sido um desabafo do poeta quando conheceu Hayan Rúbia, no final da década de 70.
“Naquela época tomávamos e transávamos todas mas nossa sexualidade era revolucionária, a transgressão foi o nosso manifesto" Disse o poeta e acrescentou; "Não éramos moleques hedonistas querendo aparecer, tínhamos uma proposta" afirmou categoricamente e completou; "Eu nunca tive qualquer relação com esta moça, se tivesse tido lembraria com certeza”!
No entanto, captamos um tom de Ironia na voz do poeta, seria verdadeira a sua declaração? Existe relação entre ele e Hayan Rúbia?
Infelizmente não tivemos qualquer confirmação do fato, mas apresentamos nossos respeitos a este mestre da poesia e publicamos aqui o poema que gerou toda a polêmica.
Em 2010 quando fizemos uma homenagem à poeta no Parque das Ruínas, Rio de Janeiro, Cairo Trindade compareceu, foi simpático e solidário à Memória da poeta e concordou em dizer um poema. O poema pode ser conferido no primeiro filme sobre Hayan Rúbia já feito no mundo.
Ainda em 1982, Hayan Rúbia apareceu na cidade de Manágua, capital da Nicarágua: “Vi corpos espalhados pelas ruas de Manágua, esses contras são muito cruéis”, esta declaração circulou num jornal alternativo brasileiro, da mesma época. Segundo o editor do jornal, ela teria dito isto numa carta enviada a uma amiga argentina residente no Rio de Janeiro e que teria mostrado a carta para o tal editor.
O poeta Flavio Dario Pettinichi nos enviou um texto escrito com letra de mão, que, segundo ele, acompanhava a carta que Rúbia enviou para a amiga argentina. Procurado pela produção do filme, Flavio disse que arrebatou o poema numa casa de leilões, em Buenos Aires. Cedeu uma cópia do texto mas recusou-se a dar declarações.
A produção do Projeto Cinema Possível, agradece a cessão deste importante documento feito pelo poeta Flavio Pettinichi. Estamos fazendo nossos melhores esforços, no sentido de apresentar para o público um pouco mais sobre a vida desta grande artista.
Segue abaixo o texto:
...
Recordarme que del vazio crie um espacio em el qual , solo ,los mistérios del
alma tienen La llave del destino.Entonces, veo sin perplexidad , que em algun cajon Del escritório , uma foto sinpaisajes, perdió el color de La agonia.Flores secas,y um livro sin La última página, son hoy, esta herida que se cerrosin escárnios ni Dolores.Recordarme que, de estas calles frias , solo recojí algunos pájaros muertos ycartas olvidadas de mandar.Ya no siento el espanto de La risa y SUS desígnios paganos , quando llueven lossiléncios .Hay ahora um exílio de petalos arrancados com ravia , de uma flor que no pariófragancias,y sin embargo , Del outro lado de La puerta uma añoranza me esperaentre laberintos y espejos rotos..ahora , em este momento, el puntero estelarparo y el tiempo ya no me pertenece, ni siquiera esta variable de mi és elresultado de algo.Ahora que algo se perdió y no me encuentro ni se encuentra em si mismo.
Em 1982, Hayan Rúbia viajou, durante um ano, por diversos países da América Latina, vivendo em albergues, pousadas e camping´s. Foi do Uruguai ao México, mas o grosso de sua produção poética ela escreveu no Chile, talvez por estar embriagada com a energia literária de um país que ganhou dois prêmios Nobel de literatura; em 1945 com Gabriela Mistral e em 1971 com Pablo Neruda.
Os poemas abaixo foram enviados pelo poeta chileno Leo Lobos, que encontrou-os pixados num muro da cidade de Santiago. Leo afirma serem poemas dela e não nos explicou os detalhes, apenas nos enviou carinhosamente e estamos publicando-os aqui.
Gira el haz de luz
para que se vea desde alta mar Pie detrás de pie no hay otra manera de caminar
(Hayan Rúbia)
Hermana duda
pasarán los años
cambiarán las modas,
vendrán otras guerras
y ojalá tú unica voz
unico dios
sigas teniéndome a tiro.
No tengo a quien rezar pidiendo luz
ando a ciegas
en mi jardín de dudas
(Hayan Rúbia)
Yo me quiero desnuda
emergiendo del polen líquida mar en tu lenguaje de raíces subterráneas
Yo me quiero desnuda
libre y ávida
(Hayan Rúbia)
Conheça o poeta chileno Leo Lobosacompanhe a entrevista exclusiva que ele concedeu para o projeto Cinema Possível.
Hayan Rúbia é, na verdade, o pseudônimo de Olyvia Bandeira de Freitas. Ela nasceu no dia 1° de Abril de 1964, dia em que estourou o golpe militar no Brasil e viveu até 1995 ou 96. Mas não se tem certeza.
As circunstâncias de sua morte são bem confusas. Ouve uma denúncia de que ela teria sido assassinada na praça do Papa em BH mas nunca se soube dizer se o corpo encontrado era de fato o dela.
Em 2014 Hayan Rúbia completará 50 anos de nascimento, se fosse viva, ela estaria com 47 anos. Mas pode ser que ela continue viva em algum lugar, escondida, talvez. Não se sabe ao certo.
A razão pela qual o projeto Cinema Possível se interessou por fazer um filme contando a sua história é o fato de ela ser uma importante poeta do circuito alternativo que circulou por diversas cidades do Brasil e América Latina.
Foram inúmeros os poetas que a conheceram e o que todos tem em comum é a incerteza sobre se, de fato, a pessoa que conheceram era realmente a própria, já que ela tinha o hábito de disfarçar seu nome e esconder sua identidade.
A reconstituição sobre a vida de Hayan Rubia é um grande desafio para nós mas, graças a algumas entrevistas marcadas e um pouco de paciência, haveremos de desvendar e até, quem sabe, descobrir seu paradeiro.
Para fazer a reconstituição simulada da vida desta poeta escolhemos a atriz mineira Mariana Jacques que é criadora da cena teatral FLICTS, de Ziraldo. O trabalho de Mariana Jacques circula por vários estados brasileiros e é um autêntico Solo Narrativo, estilo de teatro desenvolvido hoje no Brasil pelo ator, diretor e professor de teatro Júlio Adrião.
SAUDADOLOGIA.
(Hayan Rúbia)
Oi, como vai?
A quanto tempo não te via
Tenho feito tanta coisa
coisa nova em novo dia.
E você? O que tem feito?
Tanto tempo sem te ver direito
Lembra das tardes ganhas
que a gente achava que perdia?
Lembra do riso franco,
que você achava que mentia?
E ai, tudo bem?
É legal te ver outra vez
Pensar nas marcas marcadas
que outrora a gente se fez
Lembra daquele dia
em que você de nada entendia?
Eu falava sem parar,
de coisas que nem eu sabia.
Agora já meio distante
desse tempo agora passado
Esquecido não, mas sempre lembrado
Percebi... não foi o bastante
Desculpe, meu bem, se sou eu tão inconstante.
OBS: Poema encontrado num caderninho velho de anotações da autora; acredita-se que é da primeira fase da poeta Hayan Rúbia, onde ela demonstrava um certo ar solitário e parecia ter surtos de esquizofrenia. Segundo alguns relatos ela criava personagens invisíveis para depois conversar com eles, construindo uma poesia por vezes amigável e muitas vezes agressiva e questionadora.