domingo, 10 de julho de 2011

Jaqueline Serávia: Revelações do Tempo de Faculdade!

Colega de faculdade de Hayan Rúbia, "Frequentávamos a faculdade mas não eramos matriculadas. O conteudismo estava tomando conta das instituições e nossa ação - minha e de Rubí - consistia em frequentar e participar de eventos culturais, buscando restaurar o espaço da poesia alternativa brasileira!" afirmava enquanto nos explicava que ambas foram agitadoras da época em que o Brasil consolidava a passagem da ditadura militar para a democracia, Jaqueline faz revelações sobre momentos inesquecíveis ao lado da nossa personagem. Um passado que não volta mais, mas que pode ser revivido graças à arte do cinema.
"JAKE" era assim que Hayan Rúbia se referia à colega de
facultade e também poeta Jaqueline Serávia.
Depois da tensão do início conhecemos uma pessoa amável que chegou a verter lágrimas quando falou da colega de faculdade. Foi um bate papo franco e cheio de insinuações, não sem uma dose de ironia e muita poesia no ar. Além de nos mostrar um poema de 1998 que, segundo "Jake", como carinhosamente era chamada por Hayan Rúbia Ela disse que o poema foi criado especialmente para a outsider mineira que já havia falecido 2 anos antes.

Cinema Possível - Você teve um caso com Hayan Rúbia?
Jaqueline Serávia - (Solta uma gostosa gargalhada) Tá delirando? Se a conversa vai por aí é melhor ir parando agora. Rubí era uma amiga acima de tudo, tivemos nossos momentos de loucura mas acho que  a vida pessoal é da intimidade das pessoas não vem ao caso falar disso aqui.
Cinema Possível - Estamos atrás de pistas, informações que nos leve a conhecer melhor a poeta.
Jaqueline Serávia - Coloquei no correio para vocês uma fita com algumas imagens nossas que fizemos em Belo Horizonte, na praça do papa, lugar que ela gostava muito. A gente sempre se reunia lá, todos os anos ela chamava os amigos para rolar na grama, cantar, bater papo, etc...
Cinema Possível - Em que época esses encontros aconteceram?
Jaqueline - Aconteceram e acontece até hoje, claro que, atualmente, sem a presença dela. Os encontros surgiram nos anos 80 depois que ela chegou de uma longa viagem pela América Latina por volta de 1982 a 84. Em 1985 ela fez o primeiro encontro mas ninguém registrou nada, acho que você não vai achar fotos dos primeiros. Desde que o papa esteve em Belo Horizonte, em 1980, quando a praça foi praticamente criada ela passou a frequentar o local. Parou durante a viagem mas logo que chegou, retomou.
Cinema Possível - Ela gostava do papa?
Jaqueline - Na verdade, pelo que sei ela o odiava. O papa João Paulo II não gostava da Teologia da Libertação, movimento da igreja ao qual Hayan Rúbia se envolveu, ela estava sempre metida com política, este era um lado dela meio complicado porque naquele período a ditadura ainda existia, embora já estivesse "acabado". Você sabe como é neh? Uma ditadura de 20 anos, na minha opinião, leva pelo menos 40 anos pra acabar de fato.
Cinema Possível - Você conhece os poemas dela?
Jaqueline - Alguns, inclusive sei decor, quer ouvir? (Jaque recita um poema curto de Hayan Rúbia).

"Folhas como de outono
esses restos de corpos espalhados
gélidos tal inverno 
inexistente nesse trópico
Retorno assim que meus ossos
assim como meus olhos se acostumarem
Sim, porque é assim que acontece,
ou é o que deveria?!
Acostumar-se a guerra, repressão e fúria?
A mim já bastam as minhas."

 (Hayan Rúbia) 

Cinema Possível - Você sabe de que ano é este poema?
Jaqueline - Não, mas é bem antigo. Acredito que seja dos anos 70 porque ela me mostrou isso num caderno bem velho e escrito tudo a mão. Tem outro que também é dessa época, quer ouvir? (recita outro poema).

"Ele não acreditava em mim
Eu sabia, mesmo que ele nada dissesse
sobre isso ou sobre nada
Em ensaio me desejava
Eu sabia, mas não dava.
Era desafio, quem de nós dois cederia.
Eu via nítido em seus olhos o desejo 
e o desprezo por meu talento que ele nem percebia
- Que se dane, meu Guru. Você perdeu!
E eu parti fecundada da tua sabedoria."

(Hayan Rúbia)

Cinema Possível - Este último poema foi feito para alguém em especial?
Hayan Rúbia - Eu, particularmente acho que ela fez este poema para o Artur Gomes, você conhece o poeta Artur Gomes? Na época, quando ela esteve em Cabo Frio, deu uma esticada em Rio das Ostras, eu recebi ela na minha casa, lembro que ela chegou com o Artur mas nunca ficou claro a história entre os dois, sei que ela tinha veneração por ele.
Foto assinada por um tal de Edson, acredita-se que seja de algo em torno
de 1990 ou até mesmo 2 anos antes. Na praça do Papa em Belo Horizonte
onde HR. reunia amigos para conversar, cantar e rolar na grama...
Cinema Possível - Você acha que eles tiveram um caso?
Jaqueline - Na verdade a gente vivia juntos, nós três, pra cima e pra baixo falando poesia. O Artur com aquele vozeirão e o mulherio todo atrás dele mas ela era discreta e eu também.
Cinema Possível - Você também teve um caso com ele? Vocês tiveram algo a três?
Jaqueline - (Nova gargalhada e completamente irônica), vem cá, que pôrra de filme é este? É filme de sacanagem?
Cinema Possível - Desculpe, Dna. Jaqueline, é que nós soubemos que a Hayan Rúbia era bem à frente de seu tempo e pelo jeito a senhora também!
Jaqueline - Não me chame de senhora. (fica séria e para de falar, anda pela areia conosco até que resolve dizer um novo poema). / Eu fiz este poema para ela em 1998, quer ouvir?
Cinema Possível - (sorriso de satisfação) Claro, quero ouvir sim e com muito gosto.

Neblinando a Lua

Turva – a luz da lua – e dança.
Seminua sorri pra vida, desenlaça tranças...  
Embriaga-me co’ aroma de frutos, se faz brisa - o tantra. 
Os lábios se calam. Nossos olhos - no silêncio - se encontram.
A mão toca - a gramínea ruiva eriça-se. 
O mar intumescido, rende-se – à elipse provocante das curvas na areia.  
Seduz em ondas, derrama-se em espuma e as deflora. 
Sobe a cortina branca, gaze de volátil transparência. 
Doa-se ao paladar – o sal - nas pétalas doces de orquídea rara.  
Desperta em mim – tal sol em noite escura... 
Não és imagem rarefeita ou eclipse - És nua! Sou tua!
- Obra de arte ruborizando estrelas -.
(Jaqueline Serávia) 

Queríamos arrancar muito mais informações sobre Hayan Rúbia, mas sentimos que a poeta de Rio das Ostras, Jaqueline Serávia, estava cansada e não queria aprofundar nenhum assunto. Ela nos deu cópias dos poemas e nos autorizou a publicar um trecho do vídeo em que ela rola na grama com Hayan Rúbia e amigos em BH, por volta de 1988 ou 90. Ela também não nos falou sobre o período da faculdade e acabamos com muitas perguntas no ar, esperamos reencontrar Jaqueline e quem sabe aprofundamos mais a conversa sobre a nossa querida personagem. Estamos felizes com a pesquisa que mesmo de forma muito lenta parece avançar.


Um comentário:

  1. Povo curioso! Já começa a entrevista querendo saber de intimidades. Como se fosse preciso uma intimidade sexual para se ter um caso de amor com alguém e saber o que se passa em sua alma...
    afffff
    Entendi, e qq sentimento de ciumes que poderia se manifestar, nem rolou... Mesmo pq, vou te confessar, estamos começando um lindo caso de amor (Eu e Hayan, pois o meu com vc já é antigo) kkkkk. Mas refletindo sobre suas palavras, único não é sinônimo de outros "nem pensar". Portanto, cara, fica a dica! kkkkkk. Amo vc "Jack".

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